Por Caroline Valente
Aproximadamente 11 milhões de pessoas dividem as cerca de 3 milhões de “habitações” fixadas na cidade de São Paulo. Fora nas suas ruas e viadutos. Segundo dados da prefeitura, 3,4 milhões residem em moradias precárias, dos quais 1,6 milhões em loteamentos clandestinos ou irregulares; 1,2 milhões em favelas; 600 mil em cortiços e 12 mil nas ruas.
Um local que ilustra as condições em que vivem muitos habitantes da capital é o edifício da Avenida Prestes Maia, 911. Ocupado em 2002 por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, ele é considerado uma das maiores favelas verticais de São Paulo. O prédio da antiga Companhia Nacional do Tecido, que estava vazio há quase 20 anos, possui dois blocos: um de nove andares e outro de 22. Neles estão 1630 moradores: 315 crianças, 380 adolescentes, 561 mulheres e 466 homens. 468 famílias dividem os largos espaços da antiga tecelagem em diversos pequenos barracos, geralmente de madeira compensada, como se fosse uma grande repartição pública. Só que improvisada. Cada andar possui um só banheiro. Os elevadores não funcionam, e as famílias estão dispostas de acordo com suas condições, ou seja, famílias com idosos, deficientes e crianças de colo se abrigam nos andares mais baixos. Bicicletas e carrinhos de bebê ficam na portaria porque é difícil carregá-los andar acima. As ligações de água e luz são clandestinas. Os canos de esgoto ficam expostos e jorram em alguns degraus. Há umidade e mofo nas paredes.
Daniela Souza, 21 anos, mora no edifício desde sua ocupação. Desempregada há sete meses, hoje ela atua como tesoureira do prédio. Recebe mensalmente de cada família a importância de R$ 20, que financiam os serviços de portaria e limpeza, também feitos por moradores do prédio. Ela concluiu o Ensino Médio e está cursando informática. Não sabe o que fazer no futuro: “Estou completamente perdida: quero cursar faculdade, mas não sei do quê. Já pensei em Pedagogia, Serviço Social, mas desisti. Meu sonho é trabalhar na Febem”. A jovem, engajada na luta dos trabalhadores por moradia digna, já foi presa três vezes em manifestações do MTST. “Todas as vezes eram manifestações pacíficas. Mas quando as câmeras não estão por perto, principalmente da capitalista Globo, a polícia desce o cacete”.
Em dezembro de 2005, os moradores montaram uma biblioteca no subsolo com a doação de Ong’s, de escolas e também com a coleta de livros nos lixos. Hoje, são mais de 3500 títulos, dentre eles jornais, revistas, enciclopédias, cursos de línguas e literatura. São para todos os gostos, de Guimarães Rosa às coleções de Harry Potter e O Senhor dos Anéis. No saguão há também uma série de atividades culturais, exposições, murais, pinturas e fotos. Todo sábado tem cineclube. No mês de junho, o espaço vai receber cinco computadores com internet, frutos de doação.
O medo dos moradores é que a prefeitura volte a pensar na reintegração de posse do edifício, que faz parte do programa de “revitalização do Centro”. Para os moradores, o que a prefeitura quer é realizar uma política higienista, expulsando os pobres da região. A desocupação era para ter acontecido em fevereiro, mas acabou sendo adiada, pelo menos por alguns meses, graças a uma liminar em favor do MTST. Ela determina que a reintegração não aconteça enquanto não for julgado o agravo de instrumento também pedido pela defesa. Segundo o advogado Pedro Lessi, os trâmites legais do processo estão equivocados: “o proprietário, Jorge Hamuche, não poderia pedir reintegração porque não tem como provar a posse efetiva, uma vez que nunca usou o imóvel. Além disso, deve haver audiências com as testemunhas e os ocupantes do imóvel, e realizar perícia para avaliar se fizeram benfeitorias”. Enquanto a justiça não resolve o caso, os ambulantes, as domésticas, as mães e pais de família continuam a viver. Por enquanto, eles têm um teto, onde podem voltar todos os dias. Mesmo que não seja o teto de seus sonhos.
Aproximadamente 11 milhões de pessoas dividem as cerca de 3 milhões de “habitações” fixadas na cidade de São Paulo. Fora nas suas ruas e viadutos. Segundo dados da prefeitura, 3,4 milhões residem em moradias precárias, dos quais 1,6 milhões em loteamentos clandestinos ou irregulares; 1,2 milhões em favelas; 600 mil em cortiços e 12 mil nas ruas.
Um local que ilustra as condições em que vivem muitos habitantes da capital é o edifício da Avenida Prestes Maia, 911. Ocupado em 2002 por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, ele é considerado uma das maiores favelas verticais de São Paulo. O prédio da antiga Companhia Nacional do Tecido, que estava vazio há quase 20 anos, possui dois blocos: um de nove andares e outro de 22. Neles estão 1630 moradores: 315 crianças, 380 adolescentes, 561 mulheres e 466 homens. 468 famílias dividem os largos espaços da antiga tecelagem em diversos pequenos barracos, geralmente de madeira compensada, como se fosse uma grande repartição pública. Só que improvisada. Cada andar possui um só banheiro. Os elevadores não funcionam, e as famílias estão dispostas de acordo com suas condições, ou seja, famílias com idosos, deficientes e crianças de colo se abrigam nos andares mais baixos. Bicicletas e carrinhos de bebê ficam na portaria porque é difícil carregá-los andar acima. As ligações de água e luz são clandestinas. Os canos de esgoto ficam expostos e jorram em alguns degraus. Há umidade e mofo nas paredes.
Daniela Souza, 21 anos, mora no edifício desde sua ocupação. Desempregada há sete meses, hoje ela atua como tesoureira do prédio. Recebe mensalmente de cada família a importância de R$ 20, que financiam os serviços de portaria e limpeza, também feitos por moradores do prédio. Ela concluiu o Ensino Médio e está cursando informática. Não sabe o que fazer no futuro: “Estou completamente perdida: quero cursar faculdade, mas não sei do quê. Já pensei em Pedagogia, Serviço Social, mas desisti. Meu sonho é trabalhar na Febem”. A jovem, engajada na luta dos trabalhadores por moradia digna, já foi presa três vezes em manifestações do MTST. “Todas as vezes eram manifestações pacíficas. Mas quando as câmeras não estão por perto, principalmente da capitalista Globo, a polícia desce o cacete”.
Em dezembro de 2005, os moradores montaram uma biblioteca no subsolo com a doação de Ong’s, de escolas e também com a coleta de livros nos lixos. Hoje, são mais de 3500 títulos, dentre eles jornais, revistas, enciclopédias, cursos de línguas e literatura. São para todos os gostos, de Guimarães Rosa às coleções de Harry Potter e O Senhor dos Anéis. No saguão há também uma série de atividades culturais, exposições, murais, pinturas e fotos. Todo sábado tem cineclube. No mês de junho, o espaço vai receber cinco computadores com internet, frutos de doação.
O medo dos moradores é que a prefeitura volte a pensar na reintegração de posse do edifício, que faz parte do programa de “revitalização do Centro”. Para os moradores, o que a prefeitura quer é realizar uma política higienista, expulsando os pobres da região. A desocupação era para ter acontecido em fevereiro, mas acabou sendo adiada, pelo menos por alguns meses, graças a uma liminar em favor do MTST. Ela determina que a reintegração não aconteça enquanto não for julgado o agravo de instrumento também pedido pela defesa. Segundo o advogado Pedro Lessi, os trâmites legais do processo estão equivocados: “o proprietário, Jorge Hamuche, não poderia pedir reintegração porque não tem como provar a posse efetiva, uma vez que nunca usou o imóvel. Além disso, deve haver audiências com as testemunhas e os ocupantes do imóvel, e realizar perícia para avaliar se fizeram benfeitorias”. Enquanto a justiça não resolve o caso, os ambulantes, as domésticas, as mães e pais de família continuam a viver. Por enquanto, eles têm um teto, onde podem voltar todos os dias. Mesmo que não seja o teto de seus sonhos.
À esquerda, bandeira do MTST. À direita, entrada da Biblioeca Prestes Maia, criada a partir de doações e coletas nos lixos de SP.